Archive | Fevereiro 2007

You will never walk alone

Este é o primeiro texto que vou adicionar neste meu blog. É de um amigo meu, Boavisteiro, mas profundo conhecedor e admirador do Sport Lisboa e Benfica.
 
Aqueles que me conhecem, sabem que eu não capaz de criticar em praça pública qualquer treinador, jogador e claro o meu BENFICA.
Mas entre alguns amigos (não todos), sou capaz de ter alguns desabafos quando algo não corre bem.
 
E precisamente hoje, por já estarmos apurados para os 1/8 final da Taça UEFA, e supostamente as coisas estarem muito bem, não vou deixar de publicar esta excelente crónica do Paulo Moura ("radicado" por questões profissionais na ilha da Madeira) horas antes da 2ªmão dos 1/16 final na Roménia.
 
Espero que gostem e percebam isto, tal como o fiz, como uma ajuda e crítica construtiva.
 
Um abraço a todos e espero voltar em breve.
 
 

Rapaziada:

Ontem à noite (dentro da minha busca contínua do porquê do Benfica ser uma equipa perdedora) dediquei-me a ver com atenção o Barcelona-Liverpool (também não havia mais nenhum programa interessante àquela hora – a quadratura do circulo foi só ás onze).

E a conclusão que tirei dessa observação atenta, foi aquela que tenho vindo a defender e da qual estou cada vez mais convencido. Isto é: o Benfica a maior parte das vezes (90% das vezes, direi) perde porque não quer ganhar (nem os jogadores, nem o treinador).

Senão vejamos: o Liverpool tem uma equipa muito mais cara que o Benfica, mas nem por isso muito melhor. Comecemos pelo guarda-redes. O do Benfica é muito melhor (incluindo algum dos suplentes), na defesa vejo um defesa esquerdo do Liverpool muito, muito bom, mas o Benfica tem uma defesa muito equilibrada e que dá garantias. No meio campo o Liverpool tem um fora de séria (Gerrard) e um muito bom jogador (Xavi Alonso), mas daí para a frente o Benfica tem tudo melhor: o Simão é melhor que o Bellamy (muito melhor), o Micro é muito, mas muito mesmo, melhor que o Kuyt (um cepo na verdadeira acepção da palavra) e qualquer um dos gregos é melhor que os interiores do Liverpool, incluindo suplentes onde até o Crouch parece um Mantorras sem lesões. Esta qualidade de plantel reflecte-se na Liga Inglesa, onde numa prova de regularidade o Liverpool lerpa sempre (falta de soluções), mas nas provas a um jogo (Taça, Champions, etc.) está sempre na linha da frente.

Então porque é que eles ganham, e o Benfica não? Primeiro pelo treinador. O Benitez é de facto bom. Desde que saiu do Madrid a carreira dele em Tenerife já indicava algo de grande. Pena os tecnocratas do Madrid não terem visto isso. E também não viram em Valência onde ganhou dois campeonatos em três épocas, contra um dos melhores Madrid dos últimos anos, e ganhou uma UEFA e foi a uma final da Champions. Tudo isto com o Valência. Quando outro dia vos dei a minha ideia de quem poderia ser treinador do Benfica deixei de fora os primeiras linhas (Mourinho, Wenger, Oulier, Le Guen etc.), por pensar que o Benfica nesta altura não tem peito (nem representa atractividade) para um destes e tem que "apanhar" um segunda linha, embora bom (não um Eng.º qualquer).

Mas se o treinador é muito bom, há outra razão pela qual o Liverpool ganha e o Benfica não: a atitude. Nos últimos 15 anos só me lembro de ver o Benfica jogar com atitude no tempo do Camacho. Ele que para mim foi o melhor treinador do Benfica dos últimos 15 anos, porque de facto soube transmitir aqueles valores que ele aprendeu no Madrid e que encaixaram perfeitamente no Benfica (porque eram os do Benfica de toda a vida) – equipa com os mesmos jogadores vários anos, elevação na hora da derrota, respeito pelo adepto, jogadores das camadas jovens na 1ª equipa (o Camacho num ano e meio lançou 3 ou 4 jogadores das camadas jovens, daí para cá mais nenhum), etc., etc. Sabia pouco de tácticas e etc. e tal, mas era muito bom numa coisa, sabia o que era um clube grande e que atitude os jogadores desse clube deveriam ter. Teve azar de ter dado com um fora-de-série no outro lado, senão tinha ganho tudo.

Mesmo assim aqueles primeiros 15 minutos de ontem fizeram lembrar-me a final da taça Mourinho/Camacho. O Benfica entra a dominar, sem medo (tal como ontem o Liverpool), contra a corrente do jogo leva um golo (igual que ontem), mas com grande atitude (cá está a palavra mágica outra vez), vem-se acima e ganha o jogo. Qual o segredo da coisa? Atitude, vontade de ganhar. Entrar no Camp Nou a dominar já e coisa para poucos, mas depois estar a perder, "repegar" no jogo com calma, com presença de espírito, sem ser à louca, e dar a volta ao resultado, é para muito poucos.

E no meio de falta desta atitude dos jogadores do Benfica, desculpem que lhes diga, mas há responsabilidades. E o treinador e o presidente têm-nas, mas acima de tudo, quem mais as tem são os adeptos. Esses são os grandes responsáveis do estado do Benfica.

Ir à Póvoa, ver aquela segunda parte, e no fim não pedir responsabilidades aos culpados, só pode trazer uma consequência: desleixo, descontracção e "laissez faire, laissez passez".

Noutros clubes, teria havido esperas, artigos de jornais, opiniões na net, sms’s para o Dia Seguinte, o Rui Santos empertigado, enfim, pressão, pressão, pressão.

E o que é que vimos dos adeptos do Benfica? Encolher os ombros, a Leonor Pinhão a escrever que por muito que o Porto ganhe nunca chega aos calcanhares do Eusébio, o Fernando Seabra a dissertar sobre a lei de bases da liga de futebol profissional, e por aí adiante. Esta é também uma (talvez a maior)  causa do Benfica ser actualmente um clube perdedor.

E daí eu ter começado esta minha "crónica" pela famosa frase "nunca caminharás sozinho". É que actualmente os jogadores do Benfica caminham sozinhos, descontraídos, e pior que tudo, bem pagos.

Até logo